O recente anúncio do lançamento IDEIA (Inteligência Digital para Estratégia e Ideação Automática) ganhou espaço na imprensa e no meio acadêmico brasileiro como se fosse uma revolução no uso de inteligência artificial no jornalismo. O projeto, voltado a redações de pequeno e médio porte, promete gerar ideias de pautas e manchetes em tempo real a partir de integrações com o Google Trends e o modelo Gemini.
Embora a proposta soe inovadora, a realidade é que ferramentas e agentes de IA verticais com funcionalidades semelhantes já estão disponíveis — e amplamente utilizadas — no mercado global há anos.
Neste artigo, vamos analisar o que o IDEIA realmente é, por que não se trata de algo inédito, fazer críticas contundentes à forma como universidades e “especialistas” vendem soluções prontas como inovações, e orientar empreendedores a não caírem em armadilhas caras e pouco eficientes.
O que é o IDEIA e como funciona
O IDEIA é apresentado como um sistema de IA generativa especializado para redações. Sua função principal é cruzar dados de tendências do Google Trends com capacidades do modelo Gemini para gerar ideias editoriais, títulos e ângulos de matérias em tempo real.
O foco declarado é ajudar redações menores a economizar tempo na etapa de planejamento, reduzindo o processo de brainstorming em até 70%.
Pelas informações divulgadas, o IDEIA parece funcionar como uma solução de IA voltada para um nicho específico — possivelmente com características semelhantes a um Software B2B — mas sem detalhes técnicos públicos suficientes para confirmar sua arquitetura. A única certeza é que ele atua de forma automatizada para gerar ideias editoriais, integrando dados de tendências com modelos de linguagem, o que pode ser implementado de diferentes maneiras, desde fluxos com APIs até softwares dedicados desenvolvidos em linguagens como Python.
Por que não é realmente inédito
Apesar do marketing em torno do IDEIA, soluções similares já existem e são amplamente usadas no mercado:
- Jasper AI, Newsroom AI e integrações de Perplexity + Google Trends já oferecem geração de pautas e textos baseados em tendências.
- Ferramentas como LangFlow, Dify e N8N permitem criar fluxos personalizados para ingestão de dados e geração de conteúdo.
- Redações como Reuters e Associated Press automatizam parte da produção de notícias com IA desde antes de 2020.
Ou seja, o IDEIA pode ser útil, mas está longe de ser disruptivo.
O marketing acadêmico e as universidades
No Brasil, há uma prática recorrente de instituições acadêmicas anunciarem projetos de IA como se fossem inovações de ponta, quando, na realidade, replicam conceitos e tecnologias já amplamente aplicados pelo mercado.
Isso também se reflete em pós-graduações e cursos caros que ensinam ferramentas básicas, como ChatGPT e Midjourney, embaladas como “formações em IA avançada”.
O problema não é ensinar essas ferramentas, mas sim vendê-las como algo exclusivo e inovador, sem deixar claro que se tratam de tecnologias de fácil acesso e, muitas vezes, gratuitas.
A indústria dos “especialistas” marketeiros
Desde 2023, cresceu no Brasil a quantidade de pessoas que se autoproclamam “os maiores especialistas em IA do Brasil e América Latina” nas redes sociais.
Muitos vieram diretamente do marketing digital de 2015–2019, onde vendiam cursos genéricos, palestras motivacionais, fórmulas de enriquecimento rápido e até nutracêuticos.
Hoje, vestem o manto de “experts em IA” e oferecem mentorias, eventos e cursos caríssimos para ensinar o uso básico de ferramentas amplamente documentadas.
As estratégias comuns incluem:
- Lives com termos técnicos fora de contexto.
- Demonstrações simples vendidas como “métodos exclusivos”.
- Reciclagem de tutoriais disponíveis gratuitamente no exterior.
Atenção, empreendedores: como não cair no “conto do agente vertical”
Muitos desses especialistas vendem “agentes verticais” como soluções únicas para automação de atendimento, mas, na prática, entregam ferramentas prontas de micro SaaS que:
- Criam atendentes para WhatsApp a partir de PDFs e FAQs.
- Custam no mercado a partir de R$ 150/mês se adquiridas diretamente.
- Não oferecem inteligência adaptativa e autônoma real, apenas respostas pré-programadas e conversas baseadas em conteúdos rasos das empresas disponíveis em seus sites ou arquivos PDF.
Dicas para se proteger:
- Pesquise a ferramenta original e seu custo real.
- Compare preços antes de assinar contratos.
- Exija demonstrações técnicas completas.
- Avalie se a automação realmente traz ROI.
O que seria realmente inovador
Para que o Brasil avance em IA, é necessário investir em:
- Modelos proprietários treinados com dados nacionais.
- Agentes autônomos adaptados à realidade brasileira.
- Soluções open source acessíveis para pequenas empresas e redações regionais.
Conclusão
Nem todo anúncio de “inovação” em IA representa algo realmente novo. Muitas vezes, o que se vê é a reapresentação de ferramentas já conhecidas, embaladas em um discurso de exclusividade.
Consumidores, empreendedores e empresas precisam ser críticos, buscar informações, comparar soluções e entender exatamente o que estão adquirindo antes de investir.
FAQ
O que é um agente de IA vertical?
É uma IA projetada para atuar em um nicho específico, com funcionalidades adaptadas a um tipo de tarefa ou mercado.
O IDEIA é gratuito?
Não há informações públicas claras sobre modelo de licenciamento, mas a tendência é que seja restrito a parcerias com instituições, aguardamos mais informações.
Quais empresas já usam IA para gerar pautas?
Reuters, Associated Press, entre outras.
Vale a pena pagar por uma pós-graduação em IA?
Depende do conteúdo. Evite cursos que apenas ensinam ferramentas já amplamente disponíveis sem oferecer diferencial.
Como identificar um “especialista” marketeiro?
Pesquise o histórico profissional e veja se há produção técnica relevante ou apenas marketing pessoal, ou pautados por gerações de resultados baseados em quantidades feitas em dinheiro, ‘segredo’ no Brasil não é tão difícil ter resultados expressivos com um pouco de inovação, não os considerem gênios por causa disso.
Fontes: